Lucas 23:32-33
Estamos diante de uma cena de indescritível tristeza e horror.
Do lado de fora de Jerusalém, numa pequena colina chamada Calvário, três cruzes; e nelas três homens, diante de uma verdadeira multidão possuída de uma fúria selvagem e fanática, ali estava Ele sofrendo toda humilhação e toda dor que este tipo de morte era capaz de proporcionar.
E era justamente por causa de seus efeitos sobre o corpo e a reputação do indivíduo que a crucificação representava a mais dolorosa a mais cruel e humilhante forma de execução que havia.
1) AS ORIGENS DA CRUCIFICAÇÃO
a. As origens da crucificação são um tanto desconhecidas, mas ela acabou sendo adotada por todos os povos antigos, sobretudo pelos romanos, costumava empregá-las para executar escravos, rebeldes prisioneiros de guerra, e os piores tipos de criminosos, e embora não exista muitas informações históricas sobre o método da crucificação em sí, o que sabemos já é suficiente para provocar em nós a mais completa repulsa, diante de castigo tão bárbaro, depois de pronunciada a sentença, o primeiro passo era submeter o condenado a um açoite tão violento que muitos não resistiam e ali mesmo morriam amarrado ao posto do suplício, enquanto que suas carnes eram dilaceradas pelos impiedosos golpes que recebiam. Na maioria das vezes porém, o sofrimento estava apenas começando.
b. O passo seguinte era colocar a pesada cruz de madeira sobre os ombros já feridos e ensangüentados do condenado e fazer com que ele carregasse até o local de sua execução que sempre ficava do lado de fora da cidade.
c. Ao ali chegar, ele era inteiramente despidos e deitados sobre a cruz para que suas mãos e pés pudessem ser pregados. A descoberta recente dos ossos de um homem crucificado no mesmo períodos de Jesus levanta a possibilidade que talvez as pernas fossem juntadas e torcidas e então fixadas à cruz por meio de um único prego que atravessava os dois calcanhares. Sabe-se também que os homens eram crucificados de costas para a cruz, olhando para os espectadores, enquanto que as mulheres o eram com o rosto voltado para a cruz. A cruz era então levantada e deixada cair com força num buraco no solo o que fazia com que as carnes feridas rasgassem com o balanço do corpo. Para que o corpo não caísse porém, um pequeno pedaço de madeira fixado no meio da cruz, servia de assento para a vítima, que ali era deixada a morrer de fome de dor, e de exaustão.
d. Este método tornava a morte bastante prolongada, raramente ocorrendo antes das trinta e seis horas, há registro de indivíduos que levaram até 08 ou 09 dias para morrer.
e. A dor logicamente era muito intensa, visto que o corpo inteiro ficava sujeito a tensões, enquanto que as mãos e o pés que são massa de nervo perdiam pouco sangue. Depois de algum tempo, as artérias do estômago e da cabeça ficavam regurgitadas de sangue, causando uma dor de cabeça alucinante, e finalmente a febre traumática e o tétano se manifestavam.
f. Na maior parte do tempo o indivíduo permanecia consciente, sentindo minuto a minuto toda intensidade da dor e a proximidade da morte e não havia absolutamente nada que pudesse fazer. De dia o sol forte queimavam suas carnes, as moscas o incomodavam sem que pudessem tocá-las. À noite o frio e o vento cortante tornava sua agonia insuportável.
g. E quando por alguma razão se desejava abreviar os sofrimentos da vítima, as suas pernas eram quebradas a golpes de martelo ou pedaços de pau, o golpe de misericórdia geralmente era dado com uma espada ou lança num dos lados do peito.
h. E ao morrerem, os crucificados não tinham sequer o direito a uma sepultura, seus corpos eram jogados nas valas onde se jogavam o lixo da cidade e ali eram devorados por abutres e animais carnívoros, o que aumentava ainda mais a vergonha do castigo; apenas a este pormenor, a crucificação de Cristo fugiu à regra.
2) TRÊS CRUZES E SEUS PERSONAGENS
a. E ali estavam aqueles três homens, haviam acabado de ser crucificados, e nada mais podiam fazer, nem mesmo apressar a própria morte, e assim diminuir os sofrimentos; nas duas cruzes laterais, dois criminosos, parece que eram membros de um grupo de terroristas interessados em desestabilizar o governo humano na Judéia. E no centro estava Jesus, ocupando a cruz daquele que talvez fosse o líder daqueles outros dois, Barrabás. Eram cerca de 9:00 horas da manhã quando foram crucificados, o dia e o sofrimento de cada um deles estava por assim dizer apenas começando. E não bastasse a terrível aflição que ainda os aguardava, ainda \teriam que suportar, especialmente Jesus, todo escárnio, toda provocação daquela multidão ali reunida.
3) PROVOCAÇÃO E CÓLERA A JESUS
a. E eles não perderam tempo, mal os soldados haviam levantado a cruz, e começaram feito cães enfurecidos a descarregar contra Ele toda a sua cólera. Sacerdotes, escribas e fariseus, a turba de coração ingrato e impedernido, zombavam do próprio Filho de Deus, enquanto Ele agonizava no madeiro. Salvou os outros, diziam, a Sí mesmo se salve. Se és de fato o Filho de Deus, o escolhido... Os próprios soldados que mal conheciam a Jesus, acabaram sendo influenciados por aquele frenesi e também passaram a zombar dEle. dizendo se Tu és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo. Mas não eram só os soldados e a turba até mesmo um dos criminosos que estava crucificado ao Seu lado dizia: Não és Tu o Cristo?, Salva-Te a Ti mesmo e a nós também. Diz a Sra. White que Satanás com os seus anjos e na forma humana. achava-se presente ao pé da cruz. O arqui-inimigo e suas hostes cooperava com os sacerdotes, diz ela e as demais pessoas que ali estavam. Era como se o inferno inteiro estivesse diante de Cristo naquele momento.
4) REAÇÃO DE CRISTO DIANTE DE TANTA PROVOCAÇÃO
a. Jesus porém não murmurava queixa alguma. Não retribuía nenhuma das maldições que contra Ele eram lançadas. Seu semblante permanecia calmo e sereno, apesar das grandes gotas de suor e de sangue que lhe banhavam a face. Dos seus lábios apenas se ouvia aquela oração intercessória: “PAI, PERDOA-LHES, PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM!” . E essa súplica não foi em vão, pelo contrário, seu efeito foi imediato; enquanto um dos criminosos que com Ele estava crucificado apenas se tornava mais blasfemo e agressivo, o outro foi tocado pela calma serenidade de Jesus, e pela poderosa oração de perdão que lhe chegou aos ouvidos.
5) A REAÇÃO DE CRISTO PODE SALVAR VIDAS
(Leiamos ainda neste mesmo capítulo 23 de Lucas, versículos 39-41.)
a. O tempo entre a crucificação em sí e a morte propriamente dita do indivíduo, era suficiente longo para que ele refletisse sobre todos os seus atos, todos os seus erros, todos os crimes que havia cometido, pelos quais fora condenado; mas não foram necessários senão uns poucos minutos para que um daqueles criminosos reconhecesse a justiça de seu castigo. Ele havia pecado e muito, havia quem sabe praticado atentado contra os romanos. Cometido homicídios, roubos, furtos, mas embora sabendo que em termos humanos nada mais pudesse ser feito por ele, ele reconhece os seus crimes, mostra-se arrependido e disposto a aceitar a pena imposta pela lei.
b. Ele teme a Deus. E reconhece que seu sofrimento era justo, e por isso repreende o companheiro que não só continua rebelde, impenitente, mas que também chega ao ponto de se unir àquela multidão que ali estava nas provocações Àquele que não havia feito mal algum. E que portanto sofria injustamente. O relato bíblico nos dá a impressão de que o criminoso arrependido tinha algum conhecimento de Jesus e que agora reconhece como verazes todas as reivindicações Messiânicas feitas por ele. A Sra. White, confirma esta conclusão, dizendo que ele já havia visto e ouvido Jesus e ficara convencido de que Ele era o Messias, mas que por fim acabara abandonando esta idéia por influência dos sacerdotes, dos escribas, dos fariseus, fora desviado justamente por aqueles que eram os líderes espirituais da nação.
c. Ela diz também que durante todo o julgamento, ele estivera ao lado de Jesus. Ouvira Pilatos dizer que não havia nEle crime algum. Caminharam juntos em direção ao Calvário, percebera o seu porte divino e se rendera finalmente à convicção de que Ele era de fato o filho de Deus, ao ouvir aquela oração de perdão sobre aqueles que o ultrajavam. E ali na cruz, em meio à mais terrível dor e agonia, ele se lembra de tudo aquilo que havia ouvido dos lábios de Jesus; se lembra da forma como Ele curava os doentes, como Ele atendia aos necessitados, como Ele perdoava aos pecadores, e sobre a iluminação do Espírito Santo, vê nAquele Jesus ferido, ridicularizado e pregado na cruz, ele vê nEle o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. E num misto de esperança e agonia, com a voz embargada pela dor e o coração partido pela culpa, ele se atira com fé sobre o agonizante Salvador.
d. E suplica o que lemos no versículo 42; e acrescentou, “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres no Teu reino”. Eu posso imaginar a emoção de Jesus naquele momento, as lágrimas a brotarem de Seus olhos banhados pela dor, a alegria a inundar o Seu coração partido pelo sofrimento, ao ver mesmo ali naquele cenário sórdido e repulsivo, naquele lugar onde os anjos choravam e os demônios se regozijavam, ao ver mesmo ali uma alma arrependida e crente, que clamava por perdão. Os discípulos haviam fugido, aqueles que uma semana atrás haviam entoados hosanas ao Filho de Davi, agora zombavam e escarneciam dEle. Muitos a quem havia socorrido e ajudado, agora o injuriavam; quão reconfortante não deve ter sido para Jesus aquela simples, mas genuína declaração de fé, aquela súplica de entrega e de arrependimento: “Jesus, lembre-te de mim, quando vieres no Teu reino”. E a resposta foi imediata. Em palavras repletas de amor e compaixão, Jesus lhes disse, no versículo seguinte: Jesus lhes respondeu: “Em verdade Te digo hoje, estarás comigo no Paraíso”. No mesmo instante em que estas palavras foram pronunciadas , diz a Sra. White: “Um brilhante e vívido clarão penetrou a escura nuvem que parecia envolver a cruz”. Era Jesus que mesmo em Sua humilhação estava sendo glorificado. Os homens podiam açoitá-lo, podiam coroá-Lo de espinhos, podiam crucificá-Lo, os homens podiam derramar o Seu sangue blasfemar dEle e ultrajá-Lo, mas não tinham como impedí-lo de perdoar pecadores; não podiam impedí-Lo de salvar todo aquele que se volvesse a Ele em arrependimento e fé.
6) PROBLEMA DE TRADUÇÃO
“Em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso”.
Jesus não prometeu ao criminoso que ambos estariam juntos no Paraíso naquele mesmo dia, embora a maioria das versões bíblicas que usamos dizem isto. Temos aqui na verdade um problema de tradução que tem que haver apenas com a pontuação correta do texto. A palavra hoje usada por Cristo está ligada não ao verbo estarás, mas está ligada à expressão te digo, foi usada por Jesus para dar ênfase à importância do momento. O criminoso pediu a Jesus que se lembrasse dEle naquele dia, naquele dia quando Ele haveria de voltar para o estabelecimento definitivo de Seu reino. Mas Jesus lhe respondeu: “Em verdade te digo hoje”, ou seja, neste dia, neste dia em que você se arrependeu e creu, neste dia em que estamos prestes a morrer, neste dia em meio à toda essa humilhação, a toda esta dor e agonia por que passamos, neste dia de aparente derrota e fracasso, Eu garanto a você, estarás comigo no Paraíso.
7) PALAVRAS DE ALCANCE MAIOR
a. Prezados irmãos e amigos, estas confortadores palavras de Jesus, dirigidas àquele criminoso arrependido, não se aplicava exclusivamente a ele, e nem se destinavam apenas a confortá-lo, naquele momento de desespero, estas palavras são de um alcance muito maior, e dizem respeito à realidade de todo aquele que confiou em Jesus para perdão de seus pecados, mas que ainda vivem num mundo rodeado por misérias, por problemas, por desgraças dos mais diferentes tipos e tamanhos.
b. Que mundo é esse irmãos, em que os bons e os inocentes muitas vezes sofrem enquanto que os maus quase sempre prosperam e se deliciam com o fruto de sua maldade. Que mundo é esse em que a violência e a criminalidade fazem com que sejamos reféns permanentes do medo e da insegurança, Que mundo é esse em que a fome, as epidemias e os terremotos dizimam populações inteiras de cidades e países? Que mundo é esse que as guerras e os rumores de guerras espalham terror por todos os lados, justamente numa paz em que se imaginava que a paz e a harmonia universal haveriam de prevalecer? Que mundo é esse em que a despeito de todos os avanços científicos e tecnológicos, a vida nunca esteve tão ameaçada e o futuro nunca pareceu tão sombrio. Que mundo é esse de poluição e catástrofes e de desastres ecológicos cada vez mais maiores? Que mundo é esse de desigualdade sociais, da imoralidade e dos vícios sempre crescente e dos lares cada vez mais desmantelados? Que mundo é esse em que o mau triunfa a olhos vistos, e nós mesmos muitas vezes nos acostumamos a ele e não nos impressionamos mais com os estragos que ele tem feito em nossa própria vida e na vida daquele a quem amamos. Que mundo é esse em que os valores dos cristãos parecem já não existir mais, a fé se materializou, o amor se encontra totalmente deturpado, a pureza virou peça de museu e o sentido da vida se reduziu à busca alucinante de prazeres e emoções cada vez mais fortes? Que mundo é esse que se ridiculariza abertamente das noções do bem e do mal, levando a muitos a desanimarem da virtude, a zombarem da honra e a terem vergonha de serem honestos como disse Ruy Barbosa.
c. Que mundo é esse irmãos?
SEGURAMENTE NÃO É O MUNDO QUE DEUS TINHA PLANEJADO PARA NÓS NO PRINCÍPIO.
Não é o mundo em que Ele pretende nos deixar agora. Não foi apenas para nos perdoar ou para restaurar em nós a Sua imagem que Jesus veio a esta terra. Se o plano da redenção se limitasse àquilo que Cristo fez por nós na cruz e aquilo que Ele faz por meio do Espírito Santo hoje em nossa vida, não haveria muito sentido de tornarmos cristãos.
Se fosse para continuar onde estamos, rodeados de toda espécie de pecado, de ódio e de malícia, e sofrendo os efeitos deste estado de coisas, seríamos as pessoas, mais infelizes do mundo, estaríamos fora de lugar, e chegaríamos ao ponto de acabarmos desprezando a própria vida.
O plano da redenção no entanto, se destina a restaurar tudo aquilo que foi arruinado com a ação do pecado. E isso não envolve apenas o ser humano. O próprio mundo será purificado, e completamente restaurado à Sua glória, a sua perfeição original.
(Fonte: Pr. Paroschi)
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